Exclusão
Vamos falar de sistemas, ou melhor, de grupos dentro dos quais os indivíduos ou pessoas, fazem parte. O primeiro grupo ao qual pertencemos é a família, depois aos colegas de aula, ao grupo de nossos primeiros amigos. Mas tarde, ao grupo de trabalho, à empresa ou instituição na qual trabalhamos. Também pertencemos ao grupo do bairro, da cidade fazendo parte destes grupos, carregando a ideologia, a moral e os costumes destes grupos. Acreditamos que carregando este conjunto de crenças nos faz pertencer ao grupo. Estas crenças fazem parte de nossa identidade e as sentimos como parte de nós. É mais fácil compactuar com essas crenças que questioná-las. Ser dissidente dessas ideologias, moral e costumes pode nos custar a exclusão do grupo. Ser mal visto pelo resto. Mas ninguém consegue sobreviver isolado de qualquer grupo. Se for dissidente terá que se associar a outro grupo que se assemelhe em ideologia, moral e costumes, ou ao menos adaptar-se ao novo grupo para poder vivenciar uma parte de seus ideais diferentes do grupo de origem.
Exclusão familiar
A exclusão da família, o primeiro grupo ao que pertencemos, é o que mais marca nossa personalidade. E muitas vezes pessoas vivem sua vida em função dessa exclusão, sendo refém de forma inconsciente, dessa exclusão, tentando reivindicar sua ideologia, moral e costumes novos dentro de outros grupos em lugar de tentar se incluir de uma forma diferente no seu grupo familiar.
Exemplos de exclusão familiar:
• homossexualidade não aceita pela família;
• filho abandonado se sente não aceito pela família;
• alcoólatras são excluídos das famílias;
• mulheres abusadas são excluídas das famílias;
• homens que traem as esposas são excluídos pelos filhos e família da esposa;
• homens aos quais as esposas lhes nega sexo e acesso aos filhos se sentem excluídos, pois só servem como provedores e não como marido e pai;
• assassinos e outros tipos de delinquência são excluídos das famílias;
• suicidas são excluídos das famílias;
• filhos abortados, nascidos mortos ou que morreram cedo são esquecidos e por tanto excluídos da memória da família.
• Dentre outros tantos.
As famílias, às vezes, nem tocam no nome da pessoa, como se falar nesse membro da família fosse trazer algo de ruim para a família. Eles não são incluídos nas decisões ou eventos familiares. Às vezes os familiares nem olham nos olhos deles, os ignoram por completo.
Outras vezes o próprio membro se exclui do grupo por não compactuar com a ideologia, moral e costumes familiares. A pessoa quer viver uma vida com valores diferentes da família. É o caso de famílias de criminosos (aqui se incluem todo tipo de crimes, até de colarinho branco), ou famílias onde são permitidos abusos sexuais (abuso dos menores, traições sexuais tidas como normais, etc.), etc. Ou o contrario, o individuo quer ser criminoso apesar de ter nascido dentro de uma família onde isso não é bem visto. E assim por diante.
Em ambos os casos, os excluídos, procuram outros grupos de referência com os quais possam compartilhar sua ideologia, moral e costumes (crenças). Aferram-se fortemente a suas próprias crenças pessoais, pois fazem parte de sua personalidade e delas depende a sua sobrevivência. Já que dentro do grupo de origem não puderam sobreviver devem achar outro grupo ao qual pertencer, o qual os entenda e agregue outras ideias e costumes necessários para a sobrevivência fora do grupo familiar.
Exclusão social
Outro tipo de exclusão é a exclusão social. Pessoas que não têm o acesso às necessidades básicas (moradia, comida, saúde, instrução, trabalho) restritas pela condição financeira, social ou etnia. Neste grupo estão:
• “pobres”(pessoas com subemprego);
• desempregadas (trabalhadores rurais ou industriais em épocas de recessão);
• “negros”, índios, mulatos (ou qualquer outra cor de pele);
• nascidos em regiões de menos infraestrutura (estados (nordestinos) ou países (sul-americanos, africanos, asiáticos) etc.);
• estrangeiros (de outros países, estados, cidades);
• doentes (aidéticos, etc.)
• deficientes físicos (motor, auditivo, visual); deficientes mentais ou com problemas psiquiátricos (esquizofrenia, retardamento mental, deficiências cognitivas, síndromes com deficiência, etc.).
• os idosos.
Dinâmica do grupo na exclusão
Apesar das diferenças, todos pertencemos ás famílias de origem, á cidade, ao estado, ao pais onde moramos, e em última instância, ao mesmo planeta, e somos OBRIGADOS a conviver com essas diferenças. Por tanto não adianta ser excluído ou auto-excluir-se, mesmo assim pertencemos.
Os excluídos, apesar de todo, continuam a pertencer e incomodam as consciências do grupo, por isso o grupo não quer olhar para os excluído, para não se sentir incomodados no seu íntimo. As crenças que geram a exclusão criam uma tensão psicológica interna nos indivíduos e no grupo que pratica essa exclusão. As crenças criam uma falsa sensação de se ver livre do diferente, sejam indivíduos ou grupo de indivíduos.
Muitas vezes alguns familiares se associam inconscientemente com o excluído, repetindo o papel que aquele representava para a família e que o levou a exclusão, como uma forma de reivindicar o lugar daquele. Como exemplos podemos citar: casos em que o avô foi excluído por alcoolismo e o neto é viciado em drogas; pessoas deprimidas que carregam o luto de quem morreu e foi esquecido, como é o caso de abortos e crianças que morreram cedo e que a família não quer lembrar como forma de evitar a dor da perda.
Tanto para a exclusão familiar e a social só existe uma saída: a inclusão. Trazer de volta ao grupo os excluídos, incluí-los. Caso contrário seu lugar continuará a ser reivindicado geração após geração.
Onde se deve ser incluído? Os excluídos sempre tem vez dentro do contexto do qual foram excluídos.
Indivíduos excluídos
Uma situação comum é que o excluído tente reivindicar seu lugar num grupo que não é onde se originou a exclusão. Os participantes deste último grupo não entendem as reivindicações e o tratam como “louco” ou irracional nas reivindicações.
Exemplo são:
• Filhos adotados que fazem reivindicações aos pais adotivos que não lhes negaram compreensão e afeto. Eles levam as acusações que tem dos pais biológicos a os pais adotivos, que nada tem a ver o com o abandono.
• Outro caso comum é o parceiro no relacionamento conjugal reclamar de algo que os próprios pais negaram. O parceiro, por mais que se esforce nunca satisfaz a falta que os pais deixaram.
• Muitas reclamações na sociedade apesar de serem atendidas, não são suficientes para algumas pessoas; é que mesmo atendidos pela sociedade, ainda permanecem excluídos de suas famílias. Aqui também pertencem os que se auto excluem dos grupos familiares e que procuram na sociedade a inclusão. Nestes casos eles se vêm excluídos pela sociedade. Projetam na sociedade a discordância com as ideologia, moral e costumes familiares. Desta forma também não concordam de modo geral com a sociedade.
Grupo de excluídos
Podemos falar dos movimentos sociais e de grandes grupos de excluídos. Todos têm a vez de serem considerados na sua ideologia, moral e costumes sem discriminação e de serem aceitos num grupo maior, até em nível planetário. Judeus, árabes, asiáticos, são exemplos de grupos excluídos e que estão tendo um lugar dentro da sociedade mundial. Outros grupos são aqueles que são excluídos dentro de um país (“pobres”, desempregados, GLS, outras etnias, nascidos em regiões de menos infraestrutura, estrangeiros, doentes, deficientes).
Onde há diferenças marcantes entre grupos e não há espaço para a convivência se criam tensões que muitas vezes levam a violência como forma de aniquilação de outro grupo. Esse tipo de exclusão é temporário. Mais tarde deverá ser dada a oportunidade ao grupo excluído.
Exemplo disso foi o ocorrido na América latina nos anos ’70 como consequência da grande divisão mundial do pós-guerra, isto é comunismo vs capitalismo, ou totalitarismo de esquerda vc “democracia” de direita. Se estabeleceu a nível mundial uma guerra entre essas duas ideologias (com sua moral e costumes particulares). Na América latina se estabeleceu a chamada “revolução armada”, associada ao eixo comunista, como forma de impor nos países de América latina o regime comunista. Como reação, o lado capitalista, se associou com as forças armadas de cada país para combater essa “revolução armada”. Cidadãos destes países latino-americanos, que pertenciam a grupos de ideologia comunista, foram perseguidos e mortos como formas de exterminar esse grupo nos países latino-americanos. No final dos anos ’90 e começo de século XXI os mesmos que foram excluídos assumiram os governos nos países latino americanos, mas desta vez de forma democrática, sem luta armada.
Isto mostra que todos terão sua vez desde que ambas as partes cedam na sua ideologia e possibilitem a convivência. Os comunistas de outrora cederam na luta armada e foram aceitos no poder num regime democrático.
Por sua parte estes, outrora comunistas, assumiram os governos com o compromisso de inclusão social, como excluídos que eles foram. E realmente cumpriram em grande medida seu objetivo, aproximando os diferentes grupos da sociedade e reforçando o sentimento de solidariedade entre todos os que pertencem à mesma sociedade. A solidariedade é um dos sentimentos da inclusão. O sentimento de igualdade, de que somos todos igualmente vulneráveis e que precisamos um dos outros, independente do grupo qual pertencemos.
Estes governos, chamados populistas, representaram os excluídos e deles levaram seus votos.
Porquê os simpatizantes dos governos populistas são vistos como irracionais?
Como dissemos antes, muitos excluídos de seus grupos familiares buscam outros grupos que os representem, e reivindicam na sociedade aquilo que deveriam fazê-lo dentro de suas famílias. Motivo pelo qual se sentem constantemente injustiçados e são vistos como irracionais. O irracional é buscar a inclusão fora de casa, de onde se originou o verdadeiro sentimento de exclusão.
Do nosso primeiro grupo ao qual pertencemos, nossa família de origem, é que vem o sentimento de exclusão e é lá que devemos nos resolver. Alias, é muito mais fácil nos sentir aceitos na nossa família que numa grupo muito maior como é um país.
É no âmbito de nossa família de origem que devemos resolver:
• Se fomos rejeitados pelos nossos familiares, ou se rejeitamos nossa família por termos ideais ou comportamentos diferentes das crenças familiares.
• Se representamos algum parente que foi excluído e reivindicamos no nosso comportamento a inclusão de tal.
• Se nossa família se sente excluída por pertencer a algum grupo de exclusão (“pobres”, desempregados, delinquentes, outras etnias, nascidos em regiões de menos infraestrutura, estrangeiros, etc.) e como fidelidade a eles defendemos esse sentimento de exclusão e o reivindicamos socialmente, mesmo que as condições de nossa família, ou a nossa própria tenha melhorado.
Estas são algumas das possibilidades que devemos avaliar antes de nos sentirmos injustiçados socialmente ou vestir uma ideologia de forma irracional e reincidir na exclusão de quem não concorda conosco.
Autor: Alejandro Ramón Allochi – Psicólogo – CRP12-6310